
Interessante que quando se concebia a dramaturgia de Larissa S/A, eu imaginava um casal interracial, ou seja, Larissa tinha pele clara e Ricardo pele negra. Mas diante de constatações cada vez mais evidentes até na própria faculdade em que estudei, a ECA/USP, descobri que preconceitos e atribuições de valor ao povo negro perspassam simples valores de cor de pele.
Muitos valores de nossa raiz africana, além claro de nossa fenotipia, têm valores simbólicos em nossa sociedade. Aqui eu lembro uma novela que está sendo reprisada, a "Senhora do Destino" (2004, Rede Globo). Lá, Cigano (interpretado pelo brilhante ator Roney Marruda) é o traficante que estapeia sua esposa frequentemente, trazendo pavor para a família toda. Ao longo da trama, Cigano morre por uma tocaia formada por Reginaldo (De Moscovis) e Rita (Adriana Lessa) envolve-se cada vez mais com o taxista português "Seu Constantino". Na dramaturgia da novela, a redenção de Rita só se dá através do casamento com uma figura de ternura, carinho e poder de fisionomia branca e por sinal européia. Certo, poderia-se dizer que isto se apresenta somente nesta novela, mas ao ler o livro "A NEGAÇÃO DO BRASIL - O NEGRO NA TELENOVELA BRASILEIRA", constata-se que essa representação desigual ao negro e a negra sempre ocorreu nas nossas obras audiovisuais.
Ao longo do final de meu percurso na graduação, fui me descobrindo cada vez mais negro. Acho que já me considerava negro, mas não tinha noção que a questão da negritude era tão profunda e tão necessária. Coisas que percebia a minha volta como pequenos preconceitos diários que eu não enxergava, comecei a compreender dentro de nossa cordialidade que estabelece muito bem os lugares dos negros.
Assim, Larissa também se tornou negra a medida que eu fui me descobrindo também negro. Desta forma, disse para mim diante do espelho : Negar minha natureza negra seria negar minha própria história.
Nossa protagonista Larissa tem a dignidade de ser a executiva que se tornou e que perseguiu muito a esse intuíto. Ricardo tem a humanidade de reconhecer que a vida corporativa não lhe pertence, uma vez que não se enquadra em discursos prontos ou uma vida baseada em auto-ajuda empresarial. Eu me sentiria muito mal se convidasse a Valquiria para o papel de uma empregada ingênua ou se eu convidasse o Alexandre Henderson para ser mais um negão com uma arma na mão na nossa TV.
Assim, os talentos de Valquíria e Alexandre estarão presentes para serem sinceros com o contexto retratado... das desventuras que um casal negro vive num mundo corporativo. Mas ao contrário de um puro denuncismo de preconceitos ou que a vida corporativa entra numa dicotomia ruim/boa, eu proponho trazer humanidade através dos olhos de Ricardo e Larissa que não negam suas origens negras e que, por isso mesmo, têm a dignidade de trazer uma história de dilemas considerados universais dentro do nosso sistemas de relações e dinâmicas de troca.
Eu fico muito feliz de proporcionar a Valquíria e ao Alexandre personagens como Larissa e Ricardo.
Abraços a Todos
Renato Candido
Muitos valores de nossa raiz africana, além claro de nossa fenotipia, têm valores simbólicos em nossa sociedade. Aqui eu lembro uma novela que está sendo reprisada, a "Senhora do Destino" (2004, Rede Globo). Lá, Cigano (interpretado pelo brilhante ator Roney Marruda) é o traficante que estapeia sua esposa frequentemente, trazendo pavor para a família toda. Ao longo da trama, Cigano morre por uma tocaia formada por Reginaldo (De Moscovis) e Rita (Adriana Lessa) envolve-se cada vez mais com o taxista português "Seu Constantino". Na dramaturgia da novela, a redenção de Rita só se dá através do casamento com uma figura de ternura, carinho e poder de fisionomia branca e por sinal européia. Certo, poderia-se dizer que isto se apresenta somente nesta novela, mas ao ler o livro "A NEGAÇÃO DO BRASIL - O NEGRO NA TELENOVELA BRASILEIRA", constata-se que essa representação desigual ao negro e a negra sempre ocorreu nas nossas obras audiovisuais.
Ao longo do final de meu percurso na graduação, fui me descobrindo cada vez mais negro. Acho que já me considerava negro, mas não tinha noção que a questão da negritude era tão profunda e tão necessária. Coisas que percebia a minha volta como pequenos preconceitos diários que eu não enxergava, comecei a compreender dentro de nossa cordialidade que estabelece muito bem os lugares dos negros.
Assim, Larissa também se tornou negra a medida que eu fui me descobrindo também negro. Desta forma, disse para mim diante do espelho : Negar minha natureza negra seria negar minha própria história.
Nossa protagonista Larissa tem a dignidade de ser a executiva que se tornou e que perseguiu muito a esse intuíto. Ricardo tem a humanidade de reconhecer que a vida corporativa não lhe pertence, uma vez que não se enquadra em discursos prontos ou uma vida baseada em auto-ajuda empresarial. Eu me sentiria muito mal se convidasse a Valquiria para o papel de uma empregada ingênua ou se eu convidasse o Alexandre Henderson para ser mais um negão com uma arma na mão na nossa TV.
Assim, os talentos de Valquíria e Alexandre estarão presentes para serem sinceros com o contexto retratado... das desventuras que um casal negro vive num mundo corporativo. Mas ao contrário de um puro denuncismo de preconceitos ou que a vida corporativa entra numa dicotomia ruim/boa, eu proponho trazer humanidade através dos olhos de Ricardo e Larissa que não negam suas origens negras e que, por isso mesmo, têm a dignidade de trazer uma história de dilemas considerados universais dentro do nosso sistemas de relações e dinâmicas de troca.
Eu fico muito feliz de proporcionar a Valquíria e ao Alexandre personagens como Larissa e Ricardo.
Abraços a Todos
Renato Candido